sexta-feira, 15 de maio de 2015

A história do sul-coreano condenado à prisão perpétua desde o nascimento

Objetor de consciência, Song, In-ho |©Amnesty International
Objetor de consciência, Song, In-ho |©Amnesty International
Song In-ho, de 25 anos, está aguardando uma resolução judicial sobre sua decisão de se negar a prestar o serviço militar na Coreia do Sul e será preso enquanto se aprecia sua solicitação. Para comemorar o Dia Internacional da Objeção de Consciência, em 15 de maio, a Anistia conta como suas crenças religiosas moldaram sua vida.
Nasci delinquente. Toda a minha vida me senti como se estivesse na prisão, porque sabia que iriam me enviar ao cárcere. Era um futuro criminoso.
Ao crescer como testemunha de Jeová, minha consciência foi moldada pela Bíblia. Ensinaram-nos a amar inclusive nossos inimigos e que não devíamos responder violência com violência. Por isso me tornei objetor de consciência ao serviço militar. Fui declarado culpado em meu julgamento inicial e, se negarem meu recurso, ficarei preso por 18 meses. Mas não é aí que acaba minha história, nem mesmo onde começa.
Marcado como criminoso ao nascer
Na Coreia do Sul os objetores de consciência ao serviço militar são estigmatizados, quase como se estivéssemos marcados ao nascer. É como se a gente soubesse que uma criança está predestinada a ir para a prisão, então decidem trata-la como um futuro delinquente.
Minha mãe é testemunha de Jeová, mas no início meu pai era contra a minha religião. Sabia que seu querido filho iria acabar na prisão por negar-se a fazer o serviço militar e nenhum pai quer isso. Por essa razão sempre tentei com todas as minhas forças ser um bom filho, um filho diligente. Assim, meu pai mudou um pouco a forma de pensar. Foi o primeiro a apoiar minha apelação.
Quando estava na escola primária, me pediram que escrevesse na classe sobre minhas aspirações para o futuro, mas não escrevi nada porque sabia que não seria viável. Já que estava destinado à prisão de qualquer forma, de que adiantava sonhar? Mas não podia dizer isso para a minha mãe porque partia seu coração.
Marcado na escola
No início de cada ano escolar, professores e amigos me faziam a mesma pergunta: é verdade que você vai para a prisão? Tem certeza que quer ser testemunha de Jeová? Minha resposta sempre foi a mesma. Não é algo que eu pudesse negociar, porque é uma questão de fé, algo pelo que daria a vida. É uma carga que tenho que carregar até o final.
Os amigos perguntavam: sabe de todas as coisas negativas que falam sobre você? Esses momentos são muito amargos e tenho muitas recordações dolorosas.
A discriminação da universidade foi especialmente dura. Uma vez, meus amigos brincaram comigo: “Song In-ho, você não pode blasfemar, não pode lutar, não parece um homem e não estás a altura de um”. Havia muitas brincadeiras e, francamente, era muito desagradável. Ficava chateado. Passei muito tempo pensando: isso está certo? É próprio de um homem?
Desde que nasci sinto como se estivesse em um trem descontrolado que se precipitava para uma estação inevitável chamada prisão e me sentia totalmente impotente, incapaz de fugir.
Após a graduação, quis encontrar um bom trabalho, mas não consegui. Como objetor de consciência, conseguir um trabalho em uma respeitável empresa é quase impossível pela discriminação e prejuízos. Atualmente, ajudo meus país em sua empresa de limpeza.
Só peço alternativas
Para me preparar para meu julgamento, fui aos tribunais no mesmo dia todas as semanas e vi larápios, ladrões, vigaristas e estupradores, criminosos de todo tipo, todos apelando e dizendo que suas condenações eram exageradas. Pensei que se alguém devia apelar, esse alguém era eu.
Então, me decidi. Se me dessem uma oportunidade, não importava qual fosse, faria todo o possível para defender minha inocência, ainda que isso representasse um tempo na prisão.
Estou disposto e preparado para me dedicar a fazer qualquer serviço alternativo para meu país, não importa o quão difícil seja. Minha objeção de consciência ao serviço militar não tem nada a ver com evitar o serviço.
Sou um cidadão agradecido e desejo que permitam que eu contribua com a minha nação de algum modo que não seja fazendo o serviço militar. Seja qual for a alternativa, estou disposto a fazer, desde que não vá contra a minha consciência.
É só o que realmente pedimos.
Na Coreia do Sul, a maioria dos objetores de consciência são testemunhas de Jeová. O país prende mais pessoas por objeção de consciência ao serviço militar do que todo o restante do mundo; atualmente há pelo menos 600 homens presos, a maioria entre 20 e 24 anos.
Fonte: Anistia

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