Shin
Dong-hyuk nasceu em uma prisão para presos políticos chamada
informalmente como “Campo 14” e cuja existência é negada pelo governo da Coreia do Norte. Hoje com 32 anos de
idade, ele é a única pessoa de que se tem notícia que conseguiu escapar deste
local. Lá, a maioria dos presos nasce e vive por toda a vida, mas jamais são
libertados.
Dong-hyuk virou um ativista de direitos humanos e é fundador da
organização não governamental (ONG) Liberty for North Korea.
Sua história veio à tona nesta semana, depois da publicação de um vídeo
produzido pelo governo norte-coreano e no qual ele é retratado como um
criminoso.
O vídeo, que parece ter o objetivo de prejudicar o seu
testemunho e descreditar a sua história de vida, também mostra seu pai, que
Dong-hyuk pensava estar morto. “Crie juízo e volte para abraçar o partido”, diz
o frágil senhor. Para o ativista, ele foi tomado como refém. “Creio que a
mensagem é que se eu não me calar, eles irão matá-lo”, disse em entrevista à Reuters.
O ativista é uma testemunha chave da Organização das Nações
Unidas (ONU) nas investigações da entidade sobre violações de direitos humanos
na Coreia do Norte. Seu relato se tornou ainda um dos fundamentos do processo
movido pela entidade no Tribunal Penal Internacional.
Vida no Campo 14
Sua história é impressionante. Dong-hyuk é filho de dois
prisioneiros que obtiveram a permissão para dormirem juntos como recompensa por
“bom comportamento”, mas que jamais mantiveram uma relação amorosa. Viveu com a
mãe até os 12 anos e viu seu pai poucas vezes.
Como a maioria das crianças que nasceu naquele local, Dong-hyuk
foi treinado pelos guardas do campo para dedurar atividades suspeitas com as
quais tivesse contato. A atitude lhe rendia, por exemplo, um pouco mais de
comida.
Um dia soube dos planos de fuga de sua mãe e de seu irmão.
Dong-hyuk, então com 14 anos, contou tudo aos guardas esperando pela
recompensa, que veio de forma torta. Foi retirado de sua casa e torturado para
que revelasse os detalhes do plano. Em troca, ganhou cicatrizes de queimaduras
e o peso da culpa pela morte de sua mãe, que foi enforcada em seguida.
Alguns anos depois, o norte-coreano começou a trabalhar na
fábrica de tecidos da prisão, onde conheceu o homem que mudaria sua vida. Seu
nome era Pak e, segundo relatos de Dong-hyuk, deveria ter uns 40 anos de idade.
Pak já havia viajado por muitos países e contou histórias sobre
todas as guloseimas que havia provado e que gostaria de comer mais uma vez. As
conversas aos poucos começaram a trazer ao ativista a ideia de liberdade e ele
passou a questionar o confinamento que conheceu desde o nascimento.
Meses depois, a dupla estava coletando lenha no topo de uma
montanha, bem próxima das cercas eletrificadas que isolavam o campo do mundo
exterior. Correram até elas, na tentativa de escapar. Pak ficou preso nos
arames e acabou morrendo. Ao vê-lo paralisado, Dong-hyuk usou o seu corpo para
se proteger dos choques e conseguiu escapar para a Coreia do Sul.
Estima-se que, atualmente, cerca de 200 mil pessoas encontram-se
presas nos campos de prisioneiros políticos na Coreia do Norte. Entidades que
lutam pela liberdade no país calculam que mais de 300 mil conseguiram fugir do
país nos últimos anos. Dong-hyuk é um deles, mas é o único que deixou o Campo
14.
Fonte: Exame
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