quinta-feira, 3 de julho de 2014

Como se preparar para a carreira diplomática

Passar no Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata (CACD) é um sonho para muitos internacionalistas. Pessoalmente, acredito que seja o grande sonho da maioria deles; mas, infelizmente, não há nenhuma receita que garanta a aprovação. Tentei diversas estratégias, conheço colegas que tentaram muitas outras; alguns foram aprovados, e outros não. Não há receita pronta, mas algumas dicas não farão mal a ninguém, certo?
Quero ser diplomata há bastante tempo. Durante a faculdade, soube do grau de dificuldade em ser aprovado no CACD. Resolvi que não sacrificaria os estudos universitários com o objetivo estrito de passar no concurso, porque já havia descoberto que era necessário tempo e dinheiro para isso. São raros os casos das pessoas que, nos anos mais recentes, têm sido aprovadas assim que terminam a faculdade, porque, além da grande competição entre concorrentes extremamente preparados, a duração e a dificuldade do concurso demandam maturidade.
Além disso, decidi que era muito importante fazer estágio e conseguir emprego, porque não havia nenhuma garantia de que eu seria aprovado no concurso. Fazer estágio e trabalhar foi muito importante para mim, em meu crescimento pessoal, muito mais do que com artifícios e recursos para as provas. Apenas após um prazo trabalhando, resolvi abandonar tudo e me focar nos estudos para o CACD, porque já me sentia preparado para encarar uma maratona até as provas.
Fui aprovado no CACD 2013, um concurso bem diferente do de 2014. Em 2014, além da queda no número de vagas oferecidas (de 30 para 18), alteraram-se pontos substantivos do edital, como o fim das questões de múltiplas escolhas na primeira fase, a fusão de geografia e política internacional na terceira fase e as mudanças nas provas de francês e de espanhol. Por esse motivo, é difícil falar com propriedade para candidatos de provas futuras, porque o modelo aplicado até 2013 pode não se repetir mais.
Se eu pudesse passar um único conselho, porém, ele seria: pratiquem! Depois de um ano de estudo, depois de dominar o básico de cada matéria, privilegiem os exercícios. Um livro a mais, que lhe tome horas entre leitura e fichamento, não lhe será tão útil quanto as mesmas horas aplicadas a exercícios. O livro servirá, no máximo, para lhe garantir um ponto a mais; os exercícios poderão ajudá-lo mais do que isso, principalmente em matérias em que o grau de ineditismo é baixo, como economia ou direito. Apenas quando tiver muitas dúvidas, volte para as bibliografias básicas do tema e as estude com afinco, ou quando estiver seguro o suficiente de que está preparado para fazer mais de 70% na primeira fase do exame, volte aos livros para aparar algumas arestas e já fortalecer a preparação para as fases seguintes.
large__8531151660
Se a grande dica é a prática, como ela deve ser feita? Tanto com a realização de exercícios inéditos, quanto com a de exercícios antigos. Como eu disse, nem todas as matérias são originais. Muitos itens podem ser demasiadamente parecidos com outros cobrados em concursos anteriores (mesmo outros que não sejam o CACD). Na Internet, há diversos sites com questões de concurso resolvidas, assim como existem diversos livros que as compilam. Busquem as questões do CESPE, das matérias que são cobradas no CACD, principalmente tiradas de provas de um nível mais alto.
Se eu pudesse passar um único conselho, ele seria: pratiquem! Depois de um ano de estudo, depois de dominar o básico de cada matéria, privilegiem os exercícios.
A cooperação com os colegas também é bastante útil para a primeira fase. Recomendo fortemente a organização de duplas ou de grupos de estudo. Assim, o candidato consegue superar tanto a falta de dinheiro, quanto a falta de tempo. Como? Ele pode se matricular em apenas 1 ou 2 matérias do cursinho, enquanto seus colegas do grupo fazem o mesmo. Durante as reuniões, eles discutem os simulados, ficando aquele que faz as aulas da matéria encarregado de explicar o gabarito, quando há dúvidas, e de passar dicas e informações dadas em aula para aqueles que não fazem a matéria em discussão. Desse modo, cada um investe o quanto pode investir em matérias a serem cursadas, todos fazem os simulados, os gabaritos são sempre discutidos (e as dúvidas, sanadas), e o tempo é mais bem alocado. Estudando junto com outras pessoas, a sua chance será ampliada, bem como a de seus colegas, tornando-se mais possível que todos estejam ao seu lado no dia da prova da 2a Fase. Participei de um grupo de estudos que depois se tornou uma dupla – e qual foi o resultado? A minha dupla foi aprovada comigo ao final do CACD, com uma nota apenas um centésimo menor do que a minha.
A respeito da segunda e da terceira fases, refinamento teórico é bastante importante, com um bom equilíbrio entre argumentos e fatos. Entretanto, a forma é o grande diferencial. Quem chega a essas fases é um candidato preparado em termos de conteúdo. A forma pode fazer toda a diferença. E o que isso significa? Um texto claro, preciso e legível. Simetria entre os parágrafos, uso de bons recursos de linguagem, privilégio a argumentos em detrimento de fatos: tudo isso conta não apenas na redação, mas também em todas as outras disciplinas.
Quanto às línguas estrangeiras, minha principal sugestão é a realização de aulas particulares, mesmo que você tenha bastante fluência. Mais do que nas outras matérias, nas línguas, cada um tem um ritmo muito particular de aprendizado. A prova de inglês costuma ser muito difícil, mesmo para candidatos que moraram em países anglófonos. As provas de espanhol e de francês, embora tenham passado a ser objetivas, cobram algumas peculiaridades que demandam um excelente nível do idioma. Estudar com professor particular, que conheça a sistemática do concurso, aumentará suas chances.
Desejo boa sorte a todos aqueles que desejam tentar o CACD no próximo ano! A caminhada é longa e árdua. Há momentos em que você parece não ter mais vontade de abrir um livro. Toda a batalha valerá a pena. Por fim, não se esqueçam dos “3Fs”: Fé, força e foco.
Sobre o autor: Leonardo Rocha Bento estudou Relações Internacionais na Universidade de São Paulo. Aprovado no Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata em 2013, atualmente estuda no Instituto Rio Branco.

Nenhum comentário:

Postar um comentário