sábado, 13 de agosto de 2011

"Somos países cuja influência se amplia", Entrevista com embaixador chinês Qiu Xiaoqi

O Brasil tem muito a aproveitar na parceria com a China, desde que amplie seus horizontes para uma maior cooperação em projetos de ciência e tecnologia e de que seja mais rápido para se adaptar às mudanças. 
A avaliação é do embaixador Qiu Xiaoqi, que está em Brasília desde março de 2009. Em entrevista ao Correio, o diplomata diz que seu país não está interessado apenas em garantir mais um fornecedor de matérias-primas e commodities. Ele lembra que, em quase 40 anos de relações, os países puderam construir uma eficiente associação no desenvolvimento e lançamento de satélites. E que o investimento nas inovações tem muitas oportunidades a oferecer para ambos os lados.

Qual é a importância do Brasil para a China?
As relações diplomáticas entre nossos países têm 37 anos de existência. Em 1993, se estabeleceram parcerias estratégicas, a primeira relação desse tipo entre a China e um país em desenvolvimento. Temos interesses comuns por sermos países em vias de desenvolvimento, emergentes, cujas economias crescem continuamente e cuja influência se amplia em âmbito mundial. Você pode ver que, nos últimos anos, o intercâmbio de visitas de primeiro escalão é cada vez mais frequente.

A China não relegou o Brasil a mero fornecedor de matérias-primas?
Recentemente, participei do início da construção da fábrica de automóveis da Chery em São Paulo, um investimento de US$ 400 milhões. Isso demonstra que, além do comércio bilateral, que temos há muito tempo, queremos incluir mais projetos de alta tecnologia nas relações bilaterais. Não concordo que a China somente exporte produtos com valor agregado ao Brasil e somente importe matérias-primas.

Durante a visita da presidente Dilma, em abril, foi assinado um memorando de entendimento para a importação de 35 aviões da Embraer para linhas aéreas regionais. Em termos práticos, onde é que chineses e brasileiros poderiam andar juntos?
Queremos ampliar nossa cooperação em áreas que consideramos muito mais importantes, como a ciência, a tecnologia, a inovação. Desde o início do governo Dilma Rousseff, foi dada muita importância a essas áreas e à educação. O Brasil já entende que, para ser uma potência mundial, deve ter uma capacidade de inovação à altura. Ultimamente, conversei muito com autoridades brasileiras da área, e concordamos que devemos ampliar a cooperação nesse aspecto. A China tem muitas tecnologias bastante avançadas e gostaríamos de compartilhá-las com o Brasil. Os brasileiros também têm tecnologias muito avançadas.

Por exemplo?
A produção de biocombustíveis. Esse será um terreno em que poderemos trabalhar muito nos próximos anos. Há outros. Na informática e na indústria espacial, a China tem experiência. E há muitos anos temos cooperação na pesquisa e lançamento de satélites. Os dois países concordam que devemos continuar essa cooperação, e isso foi acertado durante a visita da presidente. A China tem muita experiência no desenvolvimento da indústria espacial, e o Brasil é um dos poucos países em desenvolvimento que têm essa mesma capacidade.

Além dessas, o senhor vê outras áreas em se possa avançar?
Temos muitas áreas para avançar juntos. Por exemplo: no campo da educação, o Brasil planeja enviar, até 2014, 75 mil jovens para estudar ciência e tecnologia em outros países. A China poderia ser um ponto de chegada para esses estudantes. No turismo, também temos muitas possibilidades de cooperação. A melhora do nível de vida permite a muitos chineses viajarem pelo mundo. Você poderá encontrar muitos turistas chineses nos Estados Unidos, na Europa, na Ásia, consumidores importantes que criam muitas oportunidades de emprego. Por que não fazer o mesmo no Brasil? No esporte, temos visitas recíprocas previstas para estudar oportunidades de cooperação, concretamente na organização da Copa de 2014 e da Olimpíada de 2016.

O senhor esteve em outros países da América Latina. O Brasil poderia ser um ponto de partida para empresas chinesas oferecerem projetos à região?
Durante a visita da presidente, brasileiros nos informaram que têm projetos muito ambiciosos para um sistema de integração física que possa melhorar muito as condições de transporte entre o Brasil e os vizinhos - Argentina, Uruguai, Paraguai, ao sul, Guiana, Venezuela e Peru, ao norte, além do Chile. Acho que no futuro poderíamos participar dessa rede.

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