quarta-feira, 14 de março de 2018

Ojigi: a delicada arte de curvar-se no Japão

Na cultura nipônica, conhecida por sua rígida educação, o ato de cumprimentar é essencial para demonstrar respeito. Nessa sociedade milenar o “ojigi”, curvar-se, mais que polidez é um sinal de respeito, gratidão e perdão. Exemplos de gentileza que deveriam inspirar o Mundo do século 21.
Atendentes da loja dão boas-vindas aos primeiros clientes do dia
enquanto as portas abrem na loja de departamento de Mitsukoshi, no distrito de Nihonbashi em Tokyo
Ojigi: A delicada arte japonesa do cumprimento
O povo japonês tem uma forma muito especial de se cumprimentar. Nada de aperto de mãos, muito menos beijinhos no rosto. No Japão, a forma mais comum de cumprimento é a reverência oriental, conhecida como ojigi, que significa literalmente “arco”.

Ojigi vai muito além de etiqueta social, está profundamente incorporado na cultura japonesa. O significado de inclinar-se é diferente dependendo dos contextos sociais. “Um japonês se curva ao encontrar alguém, ao pedir algo, enquanto pede desculpas, ao oferecer parabéns ou ao tentar reconhecer alguém”, (Edwin, 1993).
Além destes, a reverência é um sinal de submissão, de respeito a idosos ou a pessoas que têm uma posição mais elevada de status social. Em sua cultura, é recomendado que a pessoa mais jovem ou subordinado curvasse-se primeiro, mais baixo e mais longo. Isso, porque, dependendo de quão profundo e por quanto tempo você se curve, uma inclinação tem diferentes níveis para mostrar o quanto respeita ou admira alguém.  É importante manter a cabeça e ombros retos e os braços alinhados. Não é aconselhado manter contato visual durante a reverência (é considerado rude).
Na cultura asiática, o ato de curvar-se é uma expressão de humildade e sempre indica respeito. Alguns costumam curvarem-se até mesmo para animais, ou ainda objetos. Em Nara, até os animais aprenderam a arte do cumprimento. É possível ver entre os mais de 1.000 famosos cervos que circulam nas ruas e parques da cidade, muitos se curvando para os visitantes.
Esse ato de se inclinar-se para frente pode parecer fácil, porém é mais complicado que parece. O gesto não serve apenas para dizer “oi”, “adeus” ou “bom-dia”. Ele é usado como forma de agradecimento, como pedido de desculpas ou quando se é apresentado a alguém. Além disso, ele deve ser acompanhado de palavras adequadas, para expressar a intenção da pessoa.

Como Cumprimentar as Pessoas no Japão: Diferentes formas de flexão


Existem diferentes maneiras de flexão, a primeiro é um aceno lento, em cerca de 5 até 10 graus. Este é o tipo de saudação casual, quando nos encontramos com amigos próximos, pares, pessoas mais jovens, posição hierárquica inferior, por exemplo. Em segundo lugar, cumprimentos curvados (Eshaku) 15 graus. Esta maneira é um pouco mais formal e usada como uma saudação à pessoas que não estamos familiarizados. Eshaku é muito usado para recepcionar clientes nas lojas do Japão, acompanhados de um sonoro Irashaimase, い ら し ゃ い ま せ, “Seja bem-vindo!”.
Outras ocasiões em que os japoneses se curvam é antes ou depois de partidas esportivas. Em alguns esportes como artes marciais, sumô, e até jogos de carta como o Karuta, deve-se curvar não apenas a seu oponente mais ao treinador ou a quem está executando o jogo. Nessas ocasiões costuma-se inclinar até 20 graus. Geralmente, no inicio de um esporte, a pessoa se curva e diz “Yoroshiku onegai shimasu” e, no final ao curvar diz “Arigatou gozaimashita”.
O terceiro é uma curvatura completa (Keirei), cerca de 30 graus. Esta é uma maneira muito formal de curvar-se. Usado para mostrar respeito ao empregador ou a uma pessoa mais velha.
Próximo, o Saikeirei (最 敬礼) é um arco de 45 graus. Saikeirei tem um significado mais profundo. É uma maneira de mostrar um sentimento intenso de respeito ou culpa. Pode-se fazer uma curva de 45 graus e dizer: Moushiwake Gozaimasen “Sinto muito”. Também é usado para demonstrar respeito a pessoas com maior nível ou status social, como o Imperador do Japão, por exemplo.
E o último, e o mais raramente usado é a flexão ajoelhada (Dogeza). Este tem um significado verdadeiramente profundo, ainda mais do que o saikeirei. Se alguém cometeu um crime, um erro fatal, por exemplo, que resultou na morte de outra pessoa, nessa situação, costuma-se fazer a reverência de joelhos em um pedido de perdão: Makoto ni Moushiwake Gozaimasen deshita “Eu sinceramente peço perdão pelo que fiz”. Também é comum se curvar em respeito aos deuses nos Templos e Santuários do Japão. Cerimônias xintoístas, geralmente, exigem reverência em posição ajoelhada.
O “Dogeza” foi também usado para mostrar respeito ao Imperador em tempos antigos. Ou seja, segundo a arte do “ojigi”, quanto mais profundo o arco na reverência, maior o respeito demonstrado.
Nos contextos sociais:
1. Curvatura leve (cerca de 5 até 10 graus): Para pedir desculpas, pedir ajuda ou gratidão, agradecimento por pequenas cortesias; quando alguém lhe cede um lugar na fila, é comum curvar a cabeça superficialmente em agradecimento, por exemplo
2. Eshaku: Conhecer alguém pela primeira vez, no comércio, em negócios, após a troca do “meishi” (cartão de visita), ou para celebração, os envolvidos devem se curvar e manter-se inclinados por um momento antes de voltar à posição;
3. Keirei: Para saudações (no entanto, é diferente dependendo de quem você cumprimenta). Em apresentações  formais deve-se curvar a parte superior do corpo em um ângulo de até 30 graus. Em circunstâncias extremamente formais um arco completo pode ser executado (Saikeirei). Esse gesto de respeito é usado tanto para cumprimentar como para dizer adeus.
Saudação em público (em um estado hierárquico)
1. Inclinar-se com uma leve curvatura: Para aqueles que têm um status social ligeiramente superior ou são os mais velhos em um grupo social
2. Acenando sua mão: Somente para seus colegas, subordinados ou amigos;
3. Aperto de mãos: Em ocasiões especiais o clássico aperto de mão pode até ser realizado no Japão
Em uma cultura milenar como a nipônica, esses pequenos gestos de gentileza, não só demonstram respeito, mas evidenciam seu modo de vida, que apesar de toda evolução tecnológica, se mantém simples e cortês na Terra do Sol Nascente.

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