Desde pequeno, talvez aos três ou quatro anos, guardo comigo
a memória de minha mãe, professora de francês, conversando com umas senhoras de
aparência estranha, muito pálidas e de olhos claros, num idioma esquisito. Até
ter consciência de que se tratava do francês, já havia assimilado uma série de
palavras e expressões por convívio e um tanto de interesse.
Então, ainda no primário vieram as primeiras aulas de inglês
no colégio. Lá em casa haviam diversos recursos para a prática do idioma,
herança do meu irmão dois anos mais velho. Revistas em quadrinho, livros
infantis, desenhos animados, os quais devorei como os doces da minha avó. Logo,
as aulas passaram a ter um ritmo incômodo e a minha distração virou rotina.
Bastavam as aulas de inglês começarem para a minha imaginação flutuar e as
horas se alongarem como uma centopeia lenta e infinita. Enquanto a professora
repetia explicações ou perpetuava lições relativamente fáceis, eu fazia o dever
de casa de outras matérias, para ter tempo livre para brincar logo após a
escola.
Em um artigo no jornal britânico The Guardian, vários jovens
responderam à pergunta ‘O que lhe motivaria a aprender um idioma’. Não é
surpresa alguma para mim que a grande maioria tenha escolhido motivos
interativos e práticos, como intercâmbios, conversas com falantes nativos,
assistir filmes em outros idiomas e aprender através de jogos e aplicativos.
Anos iriam passar até eu entender que o aprendizado de
idiomas havia se tornado uma paixão. A sala de aula é uma lembrança distante e
ao decorrer do tempo absorvi uma série de hábitos para a prática de línguas
estrangeiras além dos limites de quatro paredes, que além de mais divertidos e
interessantes, me ajudaram a falar 3 idiomas a nível fluente (português, inglês
e espanhol), outro a nível avançado (alemão) e a entender relativamente bem
mais dois (francês e italiano). Aqui estão algumas das minhas dicas para todos
aqueles interessados em línguas e novas maneiras de aprender.
1. Aproveite cada oportunidade como se fosse a única
Um tópico sempre em voga para alcançar fluência é morar
fora. Sem dúvida, ter contato frequente com o idioma pode acelerar o domínio da
língua, mas então por que será que algumas pessoas aprendem mais rápido que
outras? A resposta é simples: além de aptidão natural, empenho e prática. Ao
vir morar na Alemanha, algo que sempre me incomodou foi a mudança súbita do
alemão para o inglês. Era comum perguntar algo na língua deles e ouvir uma
resposta na língua inglesa em contraponto. O meu alemão não estava muito além
do intermediário-baixo, mas isso pouco importava. Quanto mais eles respondiam
em inglês, mais eu insistia em alemão, independente de todos os possíveis erros
que eu cometeria. Era quase um jogo, quem cansava primeiro! O resultado é que
após quase um ano, quando resolvi frequentar um curso, eu já entrei no nível
B1, o terceiro nível pelo Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas.
2. Falar com nativos por algumas horas pode ser melhor que
estudar meses em uma escola.
O momento ideal para praticar as suas habilidades
linguísticas muitas vezes é quando você está absolutamente descontraído, ou em
uma situação informal. Quando estava fazendo mestrado em Londres, duas
descobertas me deixaram atônito. A primeira foi o quanto o meu inglês fluía em
jantares acompanhados de vinho. Ou simplesmente com pessoas divertidas, que me
deixavam bem à vontade. Notei que o medo de errar se escondia nas profundezas
da minha mente e muitas vezes me inibia. Ao superar isto, relaxei e passei a
prestar mais atenção nos outros que em mim. A segunda foi que ao passar a
copiar as suas expressões e a forma de pronunciar as palavras, o meu sotaque
melhorou bastante, ficou bem leve. O meu vocabulário também aumentou
consideravelmente e em seguida, virei o jogo e passei a observar os meus erros
gramaticais com frequência, em comparação ao modo que os nativos falavam.
Percebi que não apenas aprendia mais como também fixava mais as novas palavras
e expressões. Era um processo de observação do outro e de auto-observação. Tudo
ao mesmo tempo agora.
3. Tempo para aprender ou divertir-se? Que tal ambos?
Trocar o filme dublado pelo com legenda. Assistir filmes e
séries duas vezes, a primeira na versão em português, a segunda na versão
original. Ler letras e escutar a música depois sem olhar. Uma palavra
estrangeira por dia enviada para a sua namorada ou o seu namorado. Viajar ou
frequentar eventos com temáticas internacionais. Ler contos para crianças numa
língua estrangeira, ou o original das suas poesias favoritas. Você já imaginou
como os poemas de Charles Baudelaire soam em francês? Qual o verdadeiro estilo
de Charles Bukowski em inglês? Ou você tem um outro Charles favorito? Ou Henry?
Quaisquer que sejam os seus ídolos ou passatempos preferidos, associá-los ao
aprendizado de línguas potencializa a memorização. Você vai se surpreender com
a quantidade de novas palavras que vão escapulir da sua língua quando você
precisar usá-las.
4. Viaje o máximo que puder
Viajar para outros países é uma experiência inesquecível,
tanto em termos de absorção cultural como crescimento pessoal. Confrontar a sua
visão de mundo e costumes com a de pessoas absolutamente diferentes, enriquece
e transforma. Mas não se esqueça que as suas férias podem ganhar uma conotação
ainda mais local se você se esforçar em falar algumas palavras no idioma do
país. E podem ser ainda mais divertidas.
Na minha primeira viagem à Itália, busquei aprender algumas
palavras para abordar as pessoas. Comprei um livro de frases e cada dia buscava
ler o vocabulário de uma situação, como fazer um pedido no restaurante. O
resultado é que quando estava em Roma, logo nos primeiros dias consegui dicas
de moradores locais sobre o que fazer além do que se encontra nos guias
turísticos. Descobri também que os italianos entendem o espanhol melhor que o
inglês e recompensam o seu esforço em dizer algumas palavras em italiano de
forma bastante receptiva.
5. Assuma o controle do seu aprendizado
Não existe apenas uma maneira de aprender. Cada pessoa se
adapta melhor a diferentes métodos, horários e situações. Quais são os seus
favoritos? Você já se fez essa pergunta antes? Lembre-se que não há nada melhor
do que aprender se divertindo e que talvez experimentar algo completamente
diferente possa lhe surpreender positivamente. A sua namorada demora muito para
se arrumar? O seu namorado, amigo, colega, nunca aparece na hora marcada? Dez
minutos por dia já são o suficiente para estudar. O que importa é seguir o seu
próprio ritmo e manter a frequência. Cada oportunidade conta. Então, aprenda no
parque, na casa da avó, esperando o horário do médico. Coloque os fones de
ouvido no caminho para o trabalho, ou junte-se a um amigo que está no mesmo
processo para um bate-papo, como os protagonistas do nosso vídeo.
Pronto para aprender?
Fonte: + Babbel
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