Bacharéis em relações internacionais têm várias oportunidades de se consolidar profissionalmente, além da tradicional carreira diplomática junto ao Itamaraty. O/A internacionalista pode seguir uma carreira junto às organizações internacionais, como a Organização das Nações Unidas (ONU) e suas agências, tornando-se funcionário internacional, ou junto a diversas organizações não-governamentais de alcance transnacional (ONGATs), como o Greenpeace, os Médicos Sem Fronteiras etc. Diversamente, pode atuar na vertente privada da diplomacia, a diplomacia empresarial. Destaco, porém, nestas breves linhas, uma nova carreira condizente com a dinamicidade do séc. XXI, com a multipolaridade e com a renovação da cooperação internacional voltada ao desenvolvimento: a paradiplomacia. Também chamada de cooperação internacional descentralizada, a paradiplomacia é o fenômeno da internacionalização de governos locais. Trata-se de uma promissora área profissional para a atuação do internacionalista no Brasil.
Promissora porque a federação brasileira, composta por 26 estados, 1 distrito federal e 5.570 municípios ainda tem um longo caminho a percorrer até se internacionalizar de dentro para fora, contribuindo assim com o desenvolvimento do país. Se todos os estados federados brasileiros apresentam graus de internacionalização, não se pode dizer o mesmo dos municípios. Segundo pesquisa realizada em 2011 pela Confederação Nacional de Municípios (CNM), há apenas 30 municípios no país com uma ótima estrutura de relações internacionais, ou seja, com mais de 2 funcionários trabalhando em um órgão internacional específico dentro da estrutura burocrática municipal. Ratificada por uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2012, há cerca de uma centena de municípios brasileiros com alguma estrutura de relações internacionais. O dado mais interessante, contudo, levantado pela pesquisa da CNM, revela que há 3.500 municípios no país que apresentam “interesse em se internacionalizar”.
Ora, em havendo esse potencial de internacionalização no país, há também a necessidade de profissionais que estejam aptos a realizar tal trabalho. Tal aptidão é natural dentre os internacionalistas, que, se não ocuparem tais cargos, deixarão de exercer uma contribuição social para com os Municípios brasileiros.
O paradiplomata, o diplomata local, é aquele que analisa as necessidades locais a partir de um ângulo maior, o ângulo do internacionalista, utilizando uma lente global para equacionar problemas. Significa que o paradiplomata deve se servir de boas práticas e de oportunidades internacionais de inovação e desenvolvimento para cooperar em prol do desenvolvimento local. Ainda, o paradiplomata deve estar atento às diretrizes da política externa de seu país, aos acontecimentos internacionais, à geopolítica, à história e às normas internacionais para não vir a cometer “incidentes paradiplomáticos”. Por outro lado, o processo de internacionalização dos governos locais passa pela compreensão de que o que é realizado localmente terá um valor global, repercutindo internacionalmente. Ou seja, exemplos exitosos de gestão pública local poderão servir como cases globais de sucesso.
A carreira do paradiplomata encontra eco na tríade do internacionalista, depende de sua criatividade, de seu entusiasmo e de seu senso de oportunidade.
Por: Marcela Garcia Fonseca é Professora do Curso de Pós-Graduação em Gerente de Cidade da FAAP, Coordenadora do site Paradiplomacia.org no Brasil e Doutora pelo Instituto de Relações Internacionais IRI/USP.
Fonte: International Connectors
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