quinta-feira, 24 de maio de 2012

Grécia fora da Zona do Euro traria pânico aos mercados e consequências até no Brasil


 O impasse político grego para a formação de um governo, que ficou evidente após as últimas eleições realizadas no país, suscitaram dúvidas sobre a permanência da Grécia na Zona do Euro e as possíveis consequências, tanto no âmbito nacional, quanto no regional, da saída grega do grupo da moeda única no Velho Continente.

A Grécia encontra-se em um momento político complicado. As últimas pesquisas eleitorais apontam que a esquerda oposicionista, o Syriza, vem se aproveitando da insatisfação da população, principalmente dos jovens desempregados e está praticamente empatado com o partido conservador Nova Democracia na preferência dos eleitores para o pleito marcado para 17 de junho.

A postura mais radical do Syriza, principalmente em relação às medidas adotadas para os cortes de gastos gregos, juntamente com fortes problemas financeiros da Grécia, cuja dívida pública deve chegar a 172% do PIB (Produto Interno Bruto) em 2012, segundo projeções do FMI (Fundo Monetário Internacional), vêm fazendo com que cresçam os temores sobre uma possível saída da Grécia da Zona do Euro e suas consquências.

“Hoje não encontramos na Grécia algum grupo político relevante com uma mensagem clara sobre saída da Zona do Euro, o que vai em linha com as pesquisas junto à população, cuja maioria prefere a permanência do país no grupo. Entretanto, o Syriza traz uma mensagem ambígua, de que não deseja sair do bloco, mas, ao mesmo tempo é contrário ao plano fiscal nos moldes atuais, como foi elaborado para garantir o auxílio financeiro ao país”, diz Rafael Cortez, cientista político da Tendências Consultoria Integrada.

Estabilidade em xeque
No curto prazo, uma saída e o calote da Grécia traria pânico ao mercado, com uma provável quebra do sistema financeiro europeu, uma vez que alguns bancos do Velho Continente estão alavancados em títulos públicos gregos, na avaliação do cientista político da Tendências Consultoria.

Já a médio e longo prazo, o problema é ainda mais complexo, colocando a estabilidade do projeto do euro e da região em xeque. Segundo Evaldo Alves, coordenador do curso de Negócios Internacionais e Comércio Exterior da FGV (Fundação Getulio Vargas), o fato pode abrir espaço para outros países que também passam por situações econômicas semelhantes e pesadas adequações de suas contas, como Irlanda e Portugal, contestarem os ajustes fiscais, causando um desequilíbrio ainda maior nesse quesito, atingindo outros países e minando a região.

A saída grega também resultaria em um choque econômico considerável para a Europa. No caso do país decretar o calote, o impacto nas economias da Zona do Euro seria equivalente a 3,14% do PIB de toda região. Só em relação à Comunidade Europeia, a Grécia tem uma dívida superior a US$ 320 bilhões.

Impacto fora do Velho Continente
No âmbito global, uma ruptura na Zona do Euro pode dificultar a retomada no crescimento econômico dos demais países. Segundo Cortez, o fato pode gerar um rompimento do sistema financeiro com uma nova crise de confiança, em proporções ainda maiores que no caso do Lehman Brothers, gerando um processo de falta de liquidez.

Também como consequência, o enfraquecimento da Zona do Euro deve prejudicar consideravelmente a principal economia do bloco, a Alemanha, espalhando a recessão por toda Europa. “Isso pode respingar na China, um de seus principais parceiros econômicos. Como somos dependentes da economia chinesa, isso pode afetar o ritmo de crescimento do Brasil, com um cenário de desvalorização cambial e queda dos investimentos”, aponta o cientista político.

Consequências da saída do bloco para a Grécia
O professor da FGV acredita que a possibilidade da Grécia deixar a Zona do Euro ainda esteja um pouco distante, por conta da insegurança com os efeitos dessa saída. Contudo, avalia que se este fato se consumar, traria consequências negativas para a economia do próprio país.

O desligamento grego da Zona do Euro poderia ter um efeito positivo em um primeiro momento, com ajuste da competitividade por meio da desvalorização da moeda local. “O grande ponto contra a permanência, além das medidas de austeridade, é não terem controle sobre a política monetária para emissão de moeda. Sem essa limitação, teriam mais espaço na tentativa de jogar a economia em uma trajetória de crescimento, minimizando as tensões sociais”, aponta Cortez.

Entretanto, os efeitos positivos param por aí, pois uma eventual saída não resolveria questões fundamentais da economia grega. A dificuldade em manter seus negócios seria um dos principais problemas. “Os principais e mais relevantes parceiros comerciais da Grécia, como Alemanha, Itália, França e Rússia, estão na Europa e a possibilidade do país não gozar mais dos benefícios do livre fluxo de bens, produtos e investimentos terá um peso negativo para sua economia”, de acordo com Alves.

Para a Grécia, a porta de saída da eurozona seria o calote, podendo jogar o país em um cenário ainda pior de recessão, fato prejudicial à já enfraquecida economia do país e que pode gerar ainda mais tensões internas. “Significa que a Grécia vai estar de fora dos mercados. Sem acesso a financiamentos e o consequente aumento do déficit primário, o país vai deixar de honrar seus compromissos também no âmbito doméstico. Aos poucos vão emitindo uma moeda paralela, como notas promissórias para pagar os funcionários públicos”, acredita o analista político. Na Grécia, cerca de 50% da população economicamente ativa depende do setor público, enquanto 25% vive na economia informal e os outros 25% na economia privada formal.

Fonte: Infomoney

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