Do British Museum de Londres ao Museu Tervuren da Bélgica,
numerosas coleções europeias transbordam de objetos de arte chamados
'coloniais', adquiridos em condições muitas vezes discutíveis.
Embora de acordo com a etiqueta os três totens expostos no
Museu Quai Branly de Paris sejam uma "doação", seu país de origem, o
Benim pede a restituição do que considera um tesouro roubado durante a época
colonial.
Na realidade, essas imponentes estátuas foram pegas em 1892
pelas tropas francesas do general Alfred Amédée Dodds durante o roubo do
Palácio de Abomey, a capital histórica do atual Benim.
Segundo o Benim, na França existem entre 4.500 e 6.000
objetos que pertencem ao país, incluindo tronos, portas de madeira gravada e
cetros reais.
Do British Museum de Londres ao Museu Tervuren da Bélgica,
numerosas coleções europeias transbordam de objetos de arte chamados
"coloniais", adquiridos em condições muitas vezes discutíveis.
Naquela época, militares, antropólogos, etnógrafos e
missionários que percorriam os países conquistados voltavam para casa com
recordações compradas ou trocadas, e às vezes roubadas.
Inclusive o ex-ministro francês de Cultura André Malraux foi
condenado nos anos 1920 no Camboja por ter tentado arrancar os baixo-relevos de
um templo khmer.
A controvérsia não é nova e não concerne unicamente à
África. Há décadas a Grécia exige ao Reino Unido, em vão, a restituição dos
frisos do Partenon.
Mas o continente africano foi especialmente afetado.
'Hemorragia' patrimonial
"A África sofreu uma hemorragia de seu patrimônio
durante a colonização e inclusive depois, com o tráfico ilegal", lamenta
El Hadji Malick Ndiaye, conservador do museu de arte africana de Dakar.
Mais de 90% das peças importantes da África subsaariana
estão fora do continente, segundo os especialistas. A Unesco apoia há mais de
40 anos a luta dessas nações para que lhes restituam seus bens culturais
desaparecidos durante a época colonial.
Para Crusoe Osagie, porta-voz do governador do estado de
Edo, na Nigéria, não é normal que seus filhos tenham que ir ao exterior para
admirar o patrimônio de seu país. "Esses objetos pertencem a nós e nos
tiraram à força", destaca.
Assim como o Benim, cujo pedido de restituição foi negado
pela França em 2016, outros países africanos receberam negativas.
Contudo, houve exceções, como em 2003, quando o museu
etnológico de Berlim devolveu uma preciosa estátua de um pássaro ao Zimbábue,
ex-colônia britânica.
Os dirigentes africanos esperam agora uma mudança de atitude
da França, depois que o presidente Emmanuel Macron disse em novembro em Burkina
Faso que dará "as condições para uma devolução do patrimônio africano à
África" em um prazo de cinco anos.
Uma "ruptura histórica", segundo o ministro
camaronês da Cultura, Narcisse Mouelle Kombi. Seu país, colonizado
sucessivamente por Alemanha, França e Grã-Bretanha, "é um dos principais
interessados", afirma.
"Macron se comprometeu com os africanos a mudar o que
tem sido as cinco últimas décadas da política de nossos museus: encontrar as
artimanhas jurídicas necessárias para evitar a devolução" das peças,
observa o historiador Pascal Blanchard, especialista na época colonial.
O Museu Quai Branly de Paris não quis responder às perguntas
da AFP.
Paternalismo
Mas ainda existem muitos obstáculos técnicos e jurídicos,
admitem os dois especialistas que o presidente Macron nomeou em março para
concretizar sua promessa.
Para se negar a devolver as obras, os especialistas
argumentaram durante anos que os museus africanos não têm as condições
adequadas de segurança e conservação.
Mas de acordo com o conservador do museu de Dakar, El Hadji
Malick Ndiaye, se trata de um velho debate, inclusive "paternalista".
Na África "existem muitas instituições de museus, na África do Sul, no
Quênia, no Mali, em Zimbábue", assegura.
O British Museum propôs empréstimos à Nigéria e à Etiópia,
saqueadas durante uma expedição britânica em 1868, mas resiste a restituir os
bens.
O debate está mais avançado na Alemanha, um país sensível a
isso pelos espólios da época nazista e os roubos do Exército Vermelho.
Vários museus estão trabalhando para identificar a origem de
milhares de obras da época colonial, quando a Alemanha controlava Camarões,
Togo e Tanzânia. É o caso do Museu Humboldt Forum, que abrirá em breve em
Berlim e especificará a procedência dos objetos.
Fonte: G1
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