Os termos “refugiado” e “migrante” têm sido utilizados sem
distinção para descrever as milhões de pessoas em todo o mundo que fogem de
conflitos ou buscam melhores condições de vida.
Ao mesmo tempo em que as Nações Unidas se propõem a garantir
pactos globais para melhor protegê-las, é essencial entender as diferenças que
existem entre os dois grupos.
Um novo acordo internacional para desenvolver uma resposta
mais forte e justa aos grandes movimentos de refugiados, conhecido como Pacto
Global sobre Refugiados, foi endossado pelos membros da Assembleia Geral da ONU
nesta terça-feira (18). Saiba mais nesta reportagem especial.
Os termos “refugiado” e “migrante” têm sido utilizados sem
distinção para descrever as milhões de pessoas em todo o mundo que fogem de
conflitos ou buscam melhores condições de vida.
Ao mesmo tempo em que as Nações Unidas se propõem a garantir
pactos globais para melhor protegê-las, é essencial entender as diferenças que
existem entre os dois grupos.
Um novo acordo internacional para desenvolver uma resposta
mais forte e justa aos grandes movimentos de refugiados, conhecido como Pacto
Global sobre Refugiados, foi endossado pelos membros da Assembleia Geral da ONU
nesta terça-feira (18).
O objetivo é aumentar apoio aos que fogem de suas terras de
origem e aos países anfitriões, que frequentemente estão entre os mais pobres
do mundo.
O pacto visa fornecer um modelo robusto e sistemático para
melhorar a vida dos refugiados e das comunidades anfitriãs após dois anos de
intensas consultas – o que pode parecer familiar para quem está acompanhando o
progresso do Pacto Global para Migração Segura, Ordenada e Regular, adotado em
Marrakesh em 10 de dezembro.
O UN News produziu este guia para explicar a principal
diferença entre o status de migrante e de refugiado e as diferenças entre os
dois pactos apoiados pelas Nações Unidas que visam melhorar a vida de todas as
pessoas que estão em movimento.
Acabamos de ouvir que o Pacto Global para Migração foi
adotado recentemente. Por que precisamos de outro acordo?
A Declaração de Nova York, adotada em setembro de 2016, deu origem a
dois acordos: um sobre refugiados e outro sobre migrantes. Embora ambos sejam
grupos de pessoas que vivem fora de seus países de origem, há distinções
fundamentais entre os termos “refugiado” e “migrante”. Os dois acordos são de
natureza voluntária e não são instrumentos legalmente vinculantes.
Qual é a diferença entre um migrante e um refugiado?
Os refugiados são pessoas que estão fora do seu país de
origem por medo de perseguição, conflito, violência generalizada ou outras
circunstâncias que perturbaram gravemente a ordem pública, e, como resultado,
precisam de proteção internacional. A definição de refugiado pode ser encontrada
na Convenção de 1951 e nos instrumentos regionais para refugiados, assim como
no Estatuto do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados.
Embora não haja uma definição legal formal de migrante
internacional, a maioria dos especialistas concorda que migrante é a pessoa que
muda de seu país de residência habitual, independentemente do motivo da
migração ou da situação legal. Geralmente, é feita uma distinção entre migração
de curto prazo ou temporária, cobrindo movimentos com duração entre três e 12
meses, e migração a longo prazo ou permanente, referindo-se a uma mudança de
país de residência por um período de um ano ou mais.
“Sou migrante, mas não tive que arriscar minha vida em um
barco furado ou pagar traficantes. A migração segura não pode ser limitada à
elite global”, disse o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres.
Isto significa que a Convenção sobre Refugiados não é
suficiente?
O pacto complementa, mas não substitui, o sistema legal
internacional existente para refugiados — incluindo a Convenção de Refugiados
de 1951 e outros instrumentos legais internacionais sobre refugiados, direitos
humanos e lei humanitária.
“A Convenção sobre Refugiados se concentra nos direitos dos
refugiados e nas obrigações dos Estados, mas não trata da cooperação
internacional em grande escala. E é isso que o pacto global procura resolver”,
explicou Volker Türk, alto-comissário assistente para proteção da Agência da
ONU para Refugiados (ACNUR).
A Convenção de 1951 não especifica como devem ser
compartilhados os encargos e as responsabilidades, e é isso que o pacto global
faz. “Ele responde a uma das principais lacunas que enfrentamos há décadas”.
Mas por que precisamos de um novo acordo internacional?
No final de 2017, havia quase 25,4 milhões de refugiados em
todo o mundo, mais de metade deles com menos de 18 anos. Hoje, apenas 10 países
abrigam 60% dos refugiados do mundo. Só a Turquia acolhe 3,5 milhões de
refugiados, mais do que qualquer outro país. Além disso, a maioria dos
refugiados do mundo, ou 85%, vive em países em desenvolvimento que enfrentam
seus próprios desafios econômicos e de desenvolvimento.
Dez doadores governamentais, incluindo a União Europeia,
fornecem quase 80% do financiamento do ACNUR, por exemplo, e mais de dois
terços dos pedidos de reassentamento da agência da ONU são atendidos por apenas
cinco países. A diferença entre as necessidades dos refugiados e a ação para
atendê-las é grande e crescente.
Quem decidiu criar este pacto? A ONU, o ACNUR?
Não, o pacto foi decidido pelos Estados-membros. A
Declaração de Nova York para Refugiados e Migrantes, adotada pelos
Estados-membros em setembro de 2016, incluiu duas etapas principais em relação
aos refugiados:
• Primeiro, os Estados-membros adotaram o quadro abrangente
de resposta aos refugiados, que define um vasto leque de medidas a serem
tomadas pela comunidade internacional quando se responde a uma situação de
refugiados em grande escala.
• Segundo, os Estados-membros concordaram em continuar a
melhorar as respostas internacionais, trabalhando para a adoção de um “pacto
global sobre refugiados” em 2018. Eles pediram para o ACNUR consultar
Estados-membros e as mais diversas partes interessadas para propor tal pacto. A
proposta do pacto global para os refugiados foi lançada em 20 de julho de 2018.
Como foi negociado o Pacto Global sobre Refugiados?
O pacto foi desenvolvido através de um amplo processo
multilateral de consulta com os Estados-membros e outras partes interessadas.
Em 13 de novembro de 2018, a Comissão Social, Humanitária e
Cultural da Assembleia Geral da ONU, conhecida como a Terceira Comissão,
aprovou a resolução que afirma o pacto de refugiados com maioria esmagadora e
enviou o texto à plenária da Assembleia Geral para adoção, agendada para 17
dezembro de 2018.
Como funcionará o Pacto Global sobre Refugiados?
O pacto global sobre refugiados estabelece a arquitetura
para uma resposta internacional mais forte, mais previsível e mais equitativa
às grandes situações de refugiados.
Embora não seja legalmente vinculante, o documento orienta a
comunidade internacional no apoio aos refugiados, aos países e às comunidades
que abrigam grandes números deles por meio da mobilização da vontade política,
ampliação da base de apoio e ativação de arranjos para a partilha de encargos e
de responsabilidades mais equitativa e previsível.
“Os refugiados são uma preocupação internacional e uma
responsabilidade compartilhada”, destacou o alto-comissário das Nações Unidas
para os Refugiados, Filippo Grandi. “No pacto, teremos pela primeira vez um
modelo prático viável, um conjunto de ferramentas que traduz esse princípio em
ação”.
“Décadas mantendo os refugiados separados, relegados aos
acampamentos ou à margem da sociedade estão dando lugar a uma abordagem
fundamentalmente diferente – incluindo refugiados nos sistemas nacionais,
sociedades e economias de seus países anfitriões pelo tempo que for necessário,
e permitindo que eles possam contribuir para suas novas comunidades e garantir
seu próprio futuro, na pendência de uma solução para a sua situação”, explicou
Grandi, destacando que o pacto global começou com a generosidade dessas
comunidades.
O Pacto Global sobre Refugiados possui quatro objetivos:
1. Aliviar pressão sobre países que abrigam um grande número
de refugiados;
2. Construir a autoconfiança dos refugiados;
3. Expandir o acesso a países terceiros ou a refugiados
através do reassentamento e de outras vias de admissão;
4. Condições de apoio que permitam aos refugiados
regressarem aos seus países de origem;
Meu país será obrigado a receber refugiados?
Não mais do que já é. A Convenção de Refugiados de 1951 tem
foco nos direitos dos refugiados e nas obrigações dos Estados. O Pacto Global
sobre Refugiados reafirma esses padrões e princípios.
O pacto não tem objetivo de criar encargos ou imposições
adicionais sobre países que abrigam um grande número de refugiados, nem
modificar o mandato de proteção e soluções do ACNUR. Ele busca se basear no
regime internacional de refugiados que foi estabelecido ao longo de décadas.
Meu país já hospeda muitos refugiados. Vamos receber mais
ajuda?
Em contextos específicos de refugiados em grande escala, o
pacto global prevê a possibilidade de um Estado de acolhimento ou país de
origem solicitar a ativação, pelo ACNUR, de uma plataforma de apoio para
auxiliar seus mecanismos nacionais de resposta.
“O que queremos alcançar é uma galvanização muito rápida de
apoio: apoio político, financeiro e de reassentamento, para que países – ao
enfrentar tal situação – sintam que não estão sozinhos, que não estão isolados,
ou que ninguém se importa”, disse Türk. “Que a comunidade internacional se
preocupa com as pessoas, mas também com o país afetado. E é solidária e age em
solidariedade com eles. Esse é realmente o propósito”.
Que diferença tangível o pacto fará na vida dos refugiados
ou das comunidades que os acolhem?
O alto-comissário assistente do ACNUR explicou que, se o
pacto for implementado, veremos “melhor educação para meninos e meninas
refugiados, bem como melhor acesso a serviços de saúde para todos os refugiados
e mais oportunidades de subsistência”. As comunidades anfitriãs irão se
envolver de maneira diferente com os refugiados, afastando-se das políticas de
acampamentos.
Países anfitriões como Uganda, Ruanda, Irã, na América
Central ou o Líbano – com sua infraestrutura e serviços de saúde enfrentando
enormes desafios ao hospedar 1 milhão de refugiados – irão conseguir o apoio
que precisam não apenas de uma perspectiva humanitária, mas de uma perspectiva
de cooperação para o desenvolvimento. “Essa é a novidade”, acrescentou Türk.
Além disso, o ACNUR tem como objetivo conseguir mais locais
de reassentamento e encontrar mais formas para que refugiados possam se
deslocar para países terceiros – como por meio da reunificação familiar, bolsas
de estudo ou vistos humanitários.
Mas se o pacto não é legalmente vinculante, ele pode
realmente fazer a diferença?
Não é vinculante, mas a Assembleia Geral da ONU irá adotar o
pacto global. “Uma vez feito isso, demonstra um compromisso político muito
forte de todos os 193 Estados-membros para implementá-lo, mesmo que não seja
legalmente vinculante”, disse Türk, destacando que “no mundo de hoje é dessa
forma que o multilateralismo é frequentemente feito”.
Quem irá financiar todo esse processo?
O pacto global inclui a resposta em uma abordagem muito mais
ampla de parcerias. O pacto analisa o que o setor privado, as comunidades
religiosas e a instituição financeira internacional podem trazer para a mesa.
O Banco Mundial estabeleceu um instrumento financeiro
específico para os países de baixa renda afetados pelo deslocamento forçado no
valor de 2 bilhões de dólares por dois anos. O objetivo é ajudar a abordar o
impacto socioeconômico dos fluxos de refugiados para uma parte de um país.
Fonte: ONUBR
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