O gabinete responsável pela defesa dos Direitos Humanos das
Nações Unidas condenou esta terça-feira o uso de força por parte das forças de
segurança israelitas. Na segunda-feira, a intervenção israelita junto à
fronteira com a Faixa de Gaza fez pelo menos 60 mortos e várias centenas de
feridos. Foi o dia mais negro desde a guerra de 2014 entre Israel e o Hamas.
O gabinete das Nações Unidas responsável pela defesa dos
Direitos Humanos condenou esta terça-feira os últimos acontecimentos ocorridos
em Gaza, no mesmo dia em que Israel assinalou os 70 anos da sua independência e
em que a atual Administração norte-americana decidiu consumar a deslocalização
da Embaixada dos Estados Unidos de Telavive para Jerusalém.
Nas palavras do porta-voz Rupert Colville, a ONU condena o
uso de “terrível violência mortal” pelas forças de segurança israelitas e
assume-se extremamente preocupado com o que poderá acontecer esta terça-feira.
O responsável apelou ainda à condução de uma investigação
independente sobre a atuação de Israel. Segundo a agência France-Presse, os
Estados Unidos fizeram saber logo na segunda-feira que vão bloquear qualquer
eventual inquirição junto das Nações Unidas.
No Twitter, o alto comissariado para os Direitos Humanos
salienta ainda que “as regras para o uso de força nos termos da lei
internacional têm sido repetidos muitas vezes, mas são ignorados
repetidamente”.
“Parece que qualquer pessoa está sujeita a ser morta ou
ferida: mulheres, crianças, imprensa, socorristas, transeuntes, e em quase
qualquer ponto a 700 metros da cerca", acrescenta.
As Nações Unidas assumem ainda “extrema preocupação com o
que pode acontecer hoje – um dia de emoções para todos – e nas semanas que se
seguem”.
“Exigimos a máxima contenção. Já chega”, pode ler-se na
mesma publicação.
Na segunda-feira, o Alto Comissário das Nações Unidas para
os Direitos Humanos já tinha condenado o uso de força pelas forças israelitas.
Zeid Ra'ad Al Hussein exigiu o fim dos disparos de munições
reais por parte dos israelitas e assumiu-se “chocado” com a morte de dezenas de
pessoas.
“Os responsáveis por estas violações escandalosas dos
Direitos Humanos devem prestar contas. A comunidade internacional deve garantir
que seja feita justiça para com as vítimas”, acrescentou.
Risco de novos confrontos
A manifestação de segunda-feira foi o culminar da
"Marcha do Retorno", uma onda de protestos iniciada no fim de março
que reivindica o direito ao regresso dos palestinianos aos territórios ocupados
por Israel.
De acordo com os dados da ONU, pelo menos 711 mil árabes
palestinianos fugiram ou foram expulsos após a fundação do Estado de Israel, em
1948. Nas últimas seis semanas morreram 49 pessoas, a juntar às vítimas
registadas nesta segunda-feira.
Hoje, os palestinianos assinalam sete décadas desde o início
da Nakba ("Catástrofe" em árabe), ou seja, a expulsão da primeira
vaga de palestinianos que tiveram de procurar refúgio fora da sua terra, pelo
que são esperadas novas manifestações ao longo do dia.
A carga simbólica da efeméride junta-se à realização dos
funerais de pelo menos 60 vítimas mortais na sequência da investida das forças
israelitas de segunda-feira. A última morte registada pelas autoridades
palestinianas é mesmo de um bebé de apenas oito meses que pereceu após inalar
gás lacrimogéneo no local dos protestos.
Na sequência dos recentes eventos, o líder da Autoridade
Palestiniana, Mahmoud Abbas, apelou à realização de uma greve geral esta
terça-feira na Cisjordânia em homenagem às vítimas mortais. Escolas,
universidades, bancos e lojas vão estar fechadas durante o dia. O líder
palestiniano decretou também três dias de luto nacional.
As manifestações ocorridas na segunda-feira marcam o
protesto contra as terras ocupadas há 70 anos, mas foram ainda mais inflamadas
pela decisão de deslocalizar a Embaixada norte-americana de Israel para
Jerusalém. O novo edifício provisório foi inaugurado na segunda-feira com a
presença da filha do Presidente, Ivanka Trump, e do genro e conselheiro Jared Kushner,
entre outros responsáveis.
A decisão em causa é motivo de regozijo entre os israelitas
mas de revolta e ira entre os palestinianos. Afinal, há várias décadas que a
cidade de Jerusalém é disputada pelas duas partes, que reclamam a cidade como a
sua capital.
Fonte: RTP
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