País vizinho se destaca no continente com inflação
controlada, desemprego baixo e crescimento constante
Visto durante muito tempo como o “primo pobre” da América do
Sul, o Paraguai apareceu em Davos, no Fórum Econômico Mundial, como a grande
estrela da região. E com razão. Em menos de uma década, a economia paraguaia se
reinventou, conseguiu atrair investimentos estrangeiros e crescer com o apoio
do agronegócio. O resultado é um desempenho de fazer inveja aos vizinhos, que
andam patinando para sair da crise.
A transformação está nos números. A economia paraguaia
experimentou um crescimento de 14% em 2013 (o Brasil cresceu 2,3%) e 4,7% no
ano seguinte, enquanto a América do Sul cresceu, respectivamente, apenas 3,3% e
0,7%. Mesmo desacelerando, o PIB do Paraguai fechou 2015 com alta de 3% e,
segundo projeção do Fundo Monetário Internacional (FMI), deve crescer 3,5% em 2016.
A inflação segue controlada, próxima de 5%, e a taxa de desemprego do país está
em queda.
No Brasil, por outro lado, a recessão bateu forte nesse
período, com a inflação e o desemprego atingindo níveis recordes. Em 2015, o
PIB brasileiro encolheu 3,8% e a inflação chegou a 10,6%. Em 2016, é esperada
uma retração de 3,5% no nosso PIB.
Resiliente em meio à crise, o Paraguai recebeu elogios até
do FMI. Em seu último relatório sobre o país, o fundo destacou a política
fiscal do Paraguai como um importante elemento de apoio à atividade econômica
do país. O déficit orçamentário do governo atingiu 1,7% do PIB, levemente acima
do teto de 1,5% estabelecido pela lei de responsabilidade fiscal. O Paraguai
tem um dos menores índices de endividamento público do mundo, com 23% de dívida
bruta sobre o PIB. O índice estimado do Brasil é de 73%, enquanto a média dos
demais países do Mercosul é de 54%, segundo a Confederação Nacional da
Indústria (CNI) do Brasil.
Ambiente ideal
Com crescimento, baixa inflação e finanças públicas sólidas,
o Paraguai conseguiu criar um ambiente favorável à atração de investimentos
estrangeiros no qual vigoram regras estáveis, benefícios fiscais, baixa carga
tributária (cerca de 10% do PIB contra 33,4% do PIB no Brasil) e custos bastante
competitivos, sobretudo com energia e mão de obra. Não demorou muito para que
as empresas brasileiras e de outros países vizinhos descobrissem esse oásis de
benesses quase no quintal de casa, explica professor de economia do Insper,
Otto Nogami.
Impulsionado pela Lei de Maquila – criada no ano de 2000
para incentivar a instalação de empresas estrangeiras no país – o movimento de
migração de companhias para o Paraguai se acentuou a partir de 2013, quando a
economia brasileira começou a ser deteriorar. O regime fiscal de Maquila
oferece isenção de impostos às empresas estrangeiras para importação de
máquinas, equipamentos e matéria-prima. Em contrapartida, a empresa precisa
exportar 100% de sua produção até completar o primeiro ano no regime e paga um
imposto único de 1% sobre a sua fatura de exportação. Para acessar tais
benefícios, contudo, a empresa precisa manter a operação no país de origem.
Ao todo, desde 2013, a Confederação Nacional da Indústria
(CNI) já realizou sete missões ao Paraguai envolvendo cerca de 390 empresários
brasileiros de distintos setores. Desses, 60% já desenvolveram ou estão
desenvolvendo algum tipo de parceria comercial ou de investimento no Paraguai.
Ao todo, 120 empresas brasileiras estão instaladas lá, sendo 85 amparadas pelo
regime de Maquila.
“Lá as empresas brasileiras têm mais vantagens para acessar
determinados mercados. O setor têxtil consegue acessar toda a Europa com
alíquota praticamente zero. No Brasil seria de 25% a 36%, dependendo do
produto”, destaca Sarah Saldanha, gerente de Serviços de Internacionalização da
CNI. A ideia, contudo, é que as empresas brasileiras possam aproveitar as
vantagens oferecidas pelo Paraguai para impulsionar seus negócios no Brasil,
num relação de complementaridade, e não migrar definitivamente para lá,
ressalta Sarah.
Energia e mão de obra mais baratas atraem empresas
brasileiras
A lista de companhias brasileiras que migraram parte de sua
operação para o Paraguai tem nomes conhecidos como Vale, Eurofarma, Riachuelo,
JBS, Bourbon e Buddemeyer, mas também empresas menos conhecidas que encontraram
no vizinho guarani uma chance manter as portas abertas e prosperar. Lá, além de
incentivos fiscais, as companhias brasileiras encontraram mão de obra e energia
mais baratas. Para ter uma ideia, a soma dos encargos trabalhistas torna o
custo unitário de mão de obra no Brasil entre 100% e 135% mais caro que no
Paraguai. A energia, por sua vez, é quase 70% mais em conta do que aqui,
ressalta Edson Campagnolo, presidente da Federação das Indústrias do Paraná
(Fiep). Só em 2016, a entidade conduziu três missões com cerca de 60
empresários paranaenses para o Paraguai.
Parceria antiga
De acordo com a CNI, a corrente de comércio entre Brasil e
Paraguai cresceu quase 120% no acumulado dos últimos dez anos, totalizando US$
3,3 bilhões em 2015. O Brasil é superavitário em quase US$ 1,6 bilhão e as
vendas ao Paraguai são compostas por mais de 93% de bens manufaturados. O
Paraguai é o 5º principal destino das exportações brasileiras de produtos desse
tipo. O Brasil, por sua vez, ainda é a principal origem das importações do
Paraguai, fornecendo 25% do total importado pelo país em 2015), mas o valor vem
caindo nos últimos anos com o aumento da concorrência com a China.
Gargalos e limitações do país ameaçam onda de crescimento
Apesar da perspectiva positiva para os próximos anos, o
crescimento da economia paraguaia deve encontrar barreiras. Por exemplo, a
baixa qualificação da mão de obra paraguaia, destaca o professor de economia do
Insper Otto Nogami.
O FMI faz o mesmo alerta em seu relatório. Até agora,
segundo o fundo, os sólidos fundamentos macroeconômicos – com crescimento baixa
inflação e conta públicas estváveis -, além de demografia favorável, menor
custo de importação de petróleo e setor elétrico competitivo, ajudaram a
sustentar o crescimento do país no curto prazo. Já no ano passado, contudo, a
economia experimentou uma perda de impulso, em grande parte ligada à
desaceleração do preço das commodities.
No médio prazo, as ameaças ao crescimento aumentaram,
principalmente do lado externo, com o risco de um declínio mais profundo do
Brasil ou um recuo ainda maior do preço das commodities agrícolas, alerta o
FMI. Para Nogami, o plano de atração de investimentos, um dos motores do PIB
paraguaio, tende a ficar limitado pelas deficiências estruturais e gargalos do
país. Neste sentido, a recomendação do FMI ao vizinho guarani é que o país
encare alguns desafios prioritários e promova um crescimento mais inclusivo,
reduzindo a pobreza, fortalecendo os quadros políticos e aumentando a
produtividade.
Fonte: Gazeta do Povo
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