Dias após deflagrada a Operação “Carne Fraca” (17
de fevereiro), o comércio exterior brasileiro foi submetido a embargos
temporários por parte de alguns dos maiores mercados importadores de carne
bovina do país. Em um contexto no qual é prevista considerável queda no volume
de exportação de carne, o Brasil tem tentado evitar que novos parceiros
comerciais apliquem sanções sob o argumento de que o problema não implica um
questionamento generalizado sobre a qualidade da carne brasileira.
Até o momento, quinze países anunciaram que
restringiriam a importação de carne bovina do Brasil. Alguns mercados impuseram
sanções temporárias à importação, como Chile, Hong Kong e Egito. Como resposta,
o governo suspendeu a exportação dos 21 frigoríficos investigados pela
Operação, ainda que a venda no mercado interno continue liberada. A medida foi
tomada para atender demandas da União Europeia (UE) e do Japão. China e Arábia
Saudita, por sua vez, aumentaram a fiscalização sobre a carne brasileira que
chega a seus portos.
Dentre os principais destinos, Coreia do Sul, China
e UE receberam 27% da carne exportada pelo Brasil em 2016. Na terça-feira, a
exportação de carne de boi e de frango, que atinge a cifra de US$ 63 milhões
por dia, caiu para US$ 74 mil, uma queda de 99,9%. No médio prazo, estima-se
que haverá uma queda de 10 a 20% nas exportações de carne.
A questão tem exigido do ministro da Agricultura,
Blairo Maggi, conversas com vistas a apaziguar autoridades estrangeiras. O
principal argumento brasileiro é de que a questão não coloca em xeque a
qualidade da carne brasileira. Em nota à imprensa, o Ministério da Agricultura
defendeu que “os controles sanitários brasileiros são sólidos e confiáveis”.
Ainda, afirmou que, das “4.837 unidades de processamento de produtos de origem
animal sujeitas a inspeções sanitárias federais, apenas 21 estão supostamente
envolvidas em irregularidades”.
A delegação brasileira também fez um pronunciamento
no Comitê sobre Medidas Sanitárias e Fitossanitárias da Organização Mundial do
Comércio (OMC), afirmando que “em espírito de transparência e cooperação, nós
esperamos que os membros não usem medidas que possam ser consideradas
arbitrárias”.
Além do Ministério da Agricultura, outros órgãos e
associações ligados à agricultura também lançaram notas sobre a questão. A
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), por exemplo, clarificou seu
papel na regulamentação da carne bovina brasileira e a Confederação Nacional da
Agricultura (CNA) defendeu que é necessário investigar com rigor a questão para
que a imagem dos produtores não seja “maculada pela ação irresponsável e
criminosa de alguns”.
Antes de ganhar saliência, a Operação “Carne Fraca”
já estava em vigor havia dois anos e detectou que Superintendências Regionais
do Ministério da Pesca e Agricultura estavam envolvidas em esquemas de
corrupção com representantes das empresas responsáveis pelos frigoríficos
irregulares.
Ainda é pouco clara a dimensão dos impactos, mas o
escândalo pode afetar os avanços recentes do Brasil no que diz respeito ao
acesso ao mercado de carne de outros países (ver Boletim de Notícias). Alguns
eurodeputados exigiram garantias do Brasil e defenderam que a questão decorre
de uma falha no sistema geral de controle de fraudes do Brasil. O assunto
também constituiu objeto de questionamentos por parte desses deputados às
negociações do bloco com o Mercado Comum do Sul (Mercosul).
Fonte: Equipe Pontes
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