quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Malinês julgado por destruições em Timbuctu se declara culpado em Haia

O extremista malinês julgado no Tribunal Penal Internacional (TPI), em Haia, na Holanda, pela destruição de mausoléus catalogados como Patrimônio Mundial da Humanidade em Timbuctu se declarou culpado nesta segunda-feira (22). Essa é a primeira vez na história do tribunal que um réu reconhece as acusações.
"Meritíssimo, lamento dizer que tudo o que ouvi até agora é verídico e reflete os acontecimentos. Declaro-me culpado", declarou Ahmad al Faqi al Mahdi após a leitura das acusações.
Diante da corte que permanentemente julga crimes de genocídio, de guerra e contra a humanidade, ele ainda pediu perdão ao povo do Mali pela destruição dos mausoléus. Peço seu perdão e peço que me considerem como um filho que errou o caminho", disse.
Os especialistas esperam que o julgamentode Ahmad al Faqi alMahdi, que inaugura os processos pelo conflito no Mali, envie uma "mensagem contundente" sobre a pilhagem e a destruição patrimonial em todo o mundo.
A acusação afirma que o malinês, nascido em 1975, era um membro do Ansar Dine, um grupo extremista vinculado à Al-Qaeda no Magreb Islâmico (AQMI).
O Ansar Dine controlou o norte do Mali por quase dez meses em 2012, antes que uma intervenção internacional impulsionada pelaFrança os expulsasse da maior parte do território.
Como chefe da brigada islâmica da moral, o acusado havia ordenado e participado dos ataques contra os mausoléus, destruídos com picaretas e enxadas.
"Atacar e destruir símbolos culturais de comunidades é uma agressão a sua história. Nenhuma pessoa que tenha destruído o que encarna a alma e as raízes de um povo deveria poder escapar da justiça", afirmou a procuradora Fatou Bensouda.
O julgamento, cuja primeira audiência começou nesta segunda-feira às 9h (4h de Brasília), deve durar uma semana, indicaram os juízes.
A acusação e a defesa pronunciarão suas alegações e o veredicto e a sentença serão emitidos posteriormente.
Um precedente
Timbuctu, conhecida como "a cidade dos 333 santos", venera em seus mausoléus uma série de personagens que, de acordo com os especialistas malineses do Islã, são considerados os protetores da cidade e a quem os fiéis se dirigem para pedir casamentos, implorar pela chuva ou lutar contra doenças.

Estes ritos se chocam com a visão fundamentalista do Islã e seus seguidores tentaram erradicá-los antes de destruir os mausoléus, segundo a acusação.
O acusado se declarou culpado já que, segundo seu advogado Mohamed Aouini, é "um muçulmano que acredita na justiça". Também quer "pedir perdão aos habitantes de Timbuctu e ao povo malinês", anunciou o advogado antes do início do processo.
As destruições se converteram em uma "tática de guerra para semear o medo e o ódio", havia escrito recentemente a diretora-geral da Unesco, Irina Bokova, na revista "International Criminal Justice Today".
O objetivo destes ataques é "reduzir em pedaços o tecido da sociedade", acrescentou Bokova, para quem é essencial que estes crimes não fiquem impunes.
Este julgamento pode abrir um precedente, em um momento em que a lista de sítios em risco não para de crescer. Uma das incorporações recentes foi a cidade antiga de Palmira, parcialmente destruída e saqueada pelos extremistas do grupo Estado Islâmico (EI).
Fonte: G1

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