Efeito do fim das penalidades não será imediato para
economia iraniana
Com mais de dez anos de uma demanda de investimentos
reprimida em praticamente todos os setores da economia, o Irã espera ávido para
colher os frutos do levantamento das sanções econômicas negociado em troca da
aceitação de submeter seu programa nuclear a uma rígida vigilância
internacional. Mas analistas veem um longo caminho pela frente até que os
primeiros efeitos dessa mudança se reflita na economia e no bolso dos
iranianos.
Os setores de energia e bancário deverão ser os primeiros
beneficiados, como explicou ao Estado o especialista em política e energia do
Irã e professor da Texas Christian University Manocher Dorraj. Esses também
foram alguns dos setores mais prejudicados, ao lado da indústria
automobilística. Segundo Dorraj, grandes companhias como a francesa Total, a
British Petroleum, Shell e Exxon Mobil estão ansiosas para entrar no mercado
iraniano de energia.
No entanto, terão de esperar pelo menos seis meses, como
afirmou em um artigo publicado na quinta-feira o ex-vice-coordenador para Políticas
de Sanções do Departamento de Estado americano Richard Nephew. Segundo ele,
esse é o tempo mínimo antes do alívio das sanções começar a surtir efeito, por
algumas razões.
A primeira, explica, porque o Congresso americano levará
pelo menos 60 dias para revisar e opinar sobre o texto. Depois, haverá a
própria aplicação do acordo, que na avaliação de Nephew levará “meses”. Com
base no calendário do acordo anunciado em Viena, esse processo não começará até
o fim de outubro.
As sanções, lembra ele, não serão levantadas até a conclusão
desse processo. “O calendário dependerá de quão rápido o Irã agirá (para
completar esse processo)”, assinala Nephew em seu artigo publicado pelo Centro
de Política Energética Global da Universidade Colúmbia, onde também é analista.
Enquanto as sanções estiverem valendo, as empresas estão proibidas de fazer
negócio com Teerã.
Mas o Irã tem pressa. Dois dias depois de anunciado o
acordo, o presidente iraniano, Hassan Rohani, anunciou já ter planos para
renovar a envelhecida frota de aviões do país.
Segundo o regime islâmico que governa o Irã, o processo de
sanções impediu o país de comprar novas aeronaves ou mesmo fazer a manutenção
das já adquiridas, o que se refletiu em uma sequência de tragédias aéreas nas
últimas décadas.
“O mercado iraniano sofre grandes carências, que vão desde
peças de automóveis e de aeronaves a remédios e recursos ligados à medicina”,
reitera Dorraj, autor de vários livros sobre o país, entre eles From
Zarathustra to Khomeini: Populism and Dissent in Iran.
Todos, entre comerciantes e consumidores, especialmente a
parte mais pobre da população iraniana, sentiram os efeitos das penalidades
aplicadas pela comunidade internacional.
O moderado Rohani elegeu-se com a promessa de que reverteria
esse cenário e tiraria o Irã do isolamento internacional com a resolução
pacífica da crise em torno do programa nuclear iraniano. “Era imperativo para
seu governo livrar o país da pressão das sanções, o que ele conseguiu,
reforçando, assim, a legitimidade do seu governo”, disse Dorraj.
A partir do levantamento das penalidades, o Irã voltará a
usar o sistema bancário global e fazer comércio por meio de instituições
financeiras normais com o restante do mundo. Na última semana, analistas do
mercado financeiro avaliaram esse cenário como o maior retorno de uma economia
ao sistema internacional desde a queda da União Soviética.
Mas o Irã precisará modernizar seu setor de energia e as
infraestruturas do país para atrair investimentos, aumentar sua produção e
voltar à posição de potência energética, sua grande riqueza, avalia Dorraj. “Em
2015, o Irã está exportando menos de 1 milhão de barris de petróleo por dia.
Ele já chegou a exportar 4 milhões de barris há apenas alguns meses.”
Nephew estima que o Irã tenha entre 30 e 40
milhões de barris de petróleo estocados para colocar no mercado. Mais uma vez,
será preciso paciência. Em seu artigo, ele avalia que se o Irã liberar toda
essa quantidade de maneira rápida, o preço, que já sofreu queda em decorrência
do aumento da produção global, será mais uma vez afetado.
Fonte: Estadão
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