sábado, 18 de julho de 2015

Irã levará meses para sentir alívio econômico

Efeito do fim das penalidades não será imediato para economia iraniana

Com mais de dez anos de uma demanda de investimentos reprimida em praticamente todos os setores da economia, o Irã espera ávido para colher os frutos do levantamento das sanções econômicas negociado em troca da aceitação de submeter seu programa nuclear a uma rígida vigilância internacional. Mas analistas veem um longo caminho pela frente até que os primeiros efeitos dessa mudança se reflita na economia e no bolso dos iranianos.
Os setores de energia e bancário deverão ser os primeiros beneficiados, como explicou ao Estado o especialista em política e energia do Irã e professor da Texas Christian University Manocher Dorraj. Esses também foram alguns dos setores mais prejudicados, ao lado da indústria automobilística. Segundo Dorraj, grandes companhias como a francesa Total, a British Petroleum, Shell e Exxon Mobil estão ansiosas para entrar no mercado iraniano de energia.
No entanto, terão de esperar pelo menos seis meses, como afirmou em um artigo publicado na quinta-feira o ex-vice-coordenador para Políticas de Sanções do Departamento de Estado americano Richard Nephew. Segundo ele, esse é o tempo mínimo antes do alívio das sanções começar a surtir efeito, por algumas razões.
A primeira, explica, porque o Congresso americano levará pelo menos 60 dias para revisar e opinar sobre o texto. Depois, haverá a própria aplicação do acordo, que na avaliação de Nephew levará “meses”. Com base no calendário do acordo anunciado em Viena, esse processo não começará até o fim de outubro.
As sanções, lembra ele, não serão levantadas até a conclusão desse processo. “O calendário dependerá de quão rápido o Irã agirá (para completar esse processo)”, assinala Nephew em seu artigo publicado pelo Centro de Política Energética Global da Universidade Colúmbia, onde também é analista. Enquanto as sanções estiverem valendo, as empresas estão proibidas de fazer negócio com Teerã.
Mas o Irã tem pressa. Dois dias depois de anunciado o acordo, o presidente iraniano, Hassan Rohani, anunciou já ter planos para renovar a envelhecida frota de aviões do país.
Segundo o regime islâmico que governa o Irã, o processo de sanções impediu o país de comprar novas aeronaves ou mesmo fazer a manutenção das já adquiridas, o que se refletiu em uma sequência de tragédias aéreas nas últimas décadas.
“O mercado iraniano sofre grandes carências, que vão desde peças de automóveis e de aeronaves a remédios e recursos ligados à medicina”, reitera Dorraj, autor de vários livros sobre o país, entre eles From Zarathustra to Khomeini: Populism and Dissent in Iran.
Todos, entre comerciantes e consumidores, especialmente a parte mais pobre da população iraniana, sentiram os efeitos das penalidades aplicadas pela comunidade internacional.
O moderado Rohani elegeu-se com a promessa de que reverteria esse cenário e tiraria o Irã do isolamento internacional com a resolução pacífica da crise em torno do programa nuclear iraniano. “Era imperativo para seu governo livrar o país da pressão das sanções, o que ele conseguiu, reforçando, assim, a legitimidade do seu governo”, disse Dorraj.
A partir do levantamento das penalidades, o Irã voltará a usar o sistema bancário global e fazer comércio por meio de instituições financeiras normais com o restante do mundo. Na última semana, analistas do mercado financeiro avaliaram esse cenário como o maior retorno de uma economia ao sistema internacional desde a queda da União Soviética.
Mas o Irã precisará modernizar seu setor de energia e as infraestruturas do país para atrair investimentos, aumentar sua produção e voltar à posição de potência energética, sua grande riqueza, avalia Dorraj. “Em 2015, o Irã está exportando menos de 1 milhão de barris de petróleo por dia. Ele já chegou a exportar 4 milhões de barris há apenas alguns meses.”
Nephew estima que o Irã tenha entre 30 e 40 milhões de barris de petróleo estocados para colocar no mercado. Mais uma vez, será preciso paciência. Em seu artigo, ele avalia que se o Irã liberar toda essa quantidade de maneira rápida, o preço, que já sofreu queda em decorrência do aumento da produção global, será mais uma vez afetado.

Fonte: Estadão

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