quarta-feira, 13 de julho de 2016

Porque nossas feministas não comentam sobre a nova primeira-ministra britânica?

O Brexit veio como uma avalanche, varrendo o status quo da esquerda britânica, dividindo o Partido Trabalhista e abalando as estruturas centralizadoras da União Europeia. O primeiro-ministro David Cameron renunciou, como admissão de que já não contava com prestigio popular para continuar na liderança ao governo. Nesse sentido, o Brexit foi fundamental para escancarar a hipocrisia da esquerda, em particular dos grupos ditos “Progressistas”. A renúncia de Cameron abriu uma disputa interna entre os conservadores, que deveriam escolher qual de seus parlamentares iria liderar o governo. Dos sete candidatos iniciais, apenas as duas mulheres que participavam da disputa chegaram ao final: a ministra do interior Theresa May e ministra de Energia e Mudanças Climáticas Andrea Leadsom.
O que seria de se esperar era o jubilo das feministas. Afinal de contas, seria a segunda vez que uma mulher chegaria ao poder no Reino Unido. Mas não. O que houve foi pranto e ranger de dentes. Os veículos progressistas do Reino Unido lamentaram profundamente. VICE, Buzzfeed, Huffington Post UK, The Independent e The Guardian foram alguns dos que choraram copiosamente. Entre as justificativas para o boicote, estava o fato de que seja qual fosse a sucessora, que ela poderia se espelhar em Margaret Thatcher. Ao fim Andrea Leadsom desistiu da disputa, deixando Theresa May como única candidata e virtual futura primeira-ministra. Mais cedo o primeiro-ministro David Cameron anunciou Theresa como nova líder do governo, e marcou sua renúncia para o dia 11. Theresa assume na mesma data. Para os britânicos o melhor seria que se cumprisse a profecia da esquerda, que a futura chefe do governo siga os passos de Thatcher. É o que a ilha precisa, de uma líder forte, enérgica e sensata.
Pior do que a débil esquerda britânica, a esquerda brasileira conseguiu ser ainda mais patética. Os grandes portais progressistas simplesmente ignoraram a disputa pela liderança. Já haviam ignorado antes, quando Cameron formou um governo com dezesseis mulheres, do primeiro até o último escalão. Incluindo as concorrentes ao cargo de primeiro-ministro. Diferente do primeiro-ministro canadense Justin Trudeau, que formou um gabinete composto igualmente por homens e mulheres apenas para fazer propaganda, Cameron fez escolhas políticas e administrativas. Prevaleceram as mais competentes. Mas nossa mídia progressista não viu isso. Não deram destaque ao currículo das concorrentes, e nem ressaltaram o fato de que desde 1707 será apenas a segunda vez que o cargo é ocupado por uma mulher.
Chama a atenção o silêncio de Quebrando o Tabu, Buzzfeed, Catraca Livre, Huffington Post, Folha, Piauí e congêneres. Deveriam estar soltando fogos. Isso se de fato se importassem com as mulheres ou qualquer outra minoria que dizem defender. O que essa gente defende não são minorias, não são maiorias que ainda não conquistaram o devido espaço (como as mulheres). O que eles defendem é uma ideologia, por acaso uma ideologia que instrumentaliza a luta de negros, mulheres, gays, pobres e tantos outros grupos. Os jornalistas desses veículos parecem adolescentes quando se trata de comentar “sobre a resposta que uma garota de 5 anos deu a um vendedor que disse que carrinhos são brinquedos de meninos”, mas só foram comentar sobre a sucessora de Cameron hoje, e em passant. Os que gritam por meio de textos blasés que “vai ter heroína negra sim”, que “o Thor é mulher e a internet não está sabendo lidar”, que o novo filme dos Caça Fantasmas é composto por mulheres e que os homens vão ter que lidar com isso” preferem lançar bravatas ao invés de enfrentar a realidade. Isso porque se tratam de adultos mimados provenientes da classe média alta. Eles não sabem que antes do curso de humanas, haviam muitas mulheres lutando por suas vidas, reivindicado para si o protagonismo e exercendo a cidadania. Eram enfermeiras, empregadas domésticas, advogadas, microempreendedoras, catadoras de material reciclável. Isso em todo o mundo. Essa novidade ainda não chegou ao DCE.
A verdade é que os ideólogos de redação sabem muito bem disso, mas preferem adequar o mundo à sua realidade paralela. Eles querem fazer crer que a luta das mulheres começou quando alguns esquerdistas radicais começaram a fazer vomitaços, ou quando mulheres asquerosas começaram a marchar pelo direito de assassinar bebes ainda no útero. As mulheres que de fato fazem algo por si mesmas e por suas comunidades, cujos atos servirão de inspiração para as novas gerações de garotas, essas são sumariamente ignoradas. É o caso de Theresa May. Mesmo a inexperiente Andrea Leadsom é um nome muito maior do que todas as feministas. O compromisso delas não é com os indivíduos, mas sim com suas agendas políticas. Tudo é questão de conveniência política. Mostram os dentes para o governo Temer pela falta de mulheres, chamando isso de conservadorismo. Mas quando alguns conservadores elegem uma mulher, eles se calam. Só para lembrar, um desses veículos vivia cobrando representatividade racial diariamente, reivindicando mais espaços para negros tanto nas escolas quanto nos filmes, tanto nas HQs quanto nos games. No final, uma foto da equipe de redação mostrou que aqueles progressistas blasés do Huffington Post Brasil não tinham sequer um mulatinho para preencher cota. Tendo isso em mente, fica o conselho: está proibido dar ouvidos a qualquer manchete sensacionalista ou texto demagógico veiculado por esses portais. Quando aparecer algo do Catraca Livre, HuffsPost Brasil, Quebrando o Tabu e Buzzfeed reivindicando representatividade, o segredo é denunciar, pois se trata de mais um estelionato na praça.

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