O Brexit veio como uma avalanche, varrendo o status quo da
esquerda britânica, dividindo o Partido Trabalhista e abalando as estruturas
centralizadoras da União Europeia. O primeiro-ministro David Cameron renunciou,
como admissão de que já não contava com prestigio popular para continuar na
liderança ao governo. Nesse sentido, o Brexit foi fundamental para escancarar a
hipocrisia da esquerda, em particular dos grupos ditos “Progressistas”. A
renúncia de Cameron abriu uma disputa interna entre os conservadores, que
deveriam escolher qual de seus parlamentares iria liderar o governo. Dos sete
candidatos iniciais, apenas as duas mulheres que participavam da disputa
chegaram ao final: a ministra do interior Theresa May e ministra de Energia e
Mudanças Climáticas Andrea Leadsom.
O que seria de se esperar era o jubilo das feministas.
Afinal de contas, seria a segunda vez que uma mulher chegaria ao poder no Reino
Unido. Mas não. O que houve foi pranto e ranger de dentes. Os veículos
progressistas do Reino Unido lamentaram profundamente. VICE, Buzzfeed,
Huffington Post UK, The Independent e The Guardian foram alguns dos que
choraram copiosamente. Entre as justificativas para o boicote, estava o fato de
que seja qual fosse a sucessora, que ela poderia se espelhar em Margaret
Thatcher. Ao fim Andrea Leadsom desistiu da disputa, deixando Theresa May como
única candidata e virtual futura primeira-ministra. Mais cedo o
primeiro-ministro David Cameron anunciou Theresa como nova líder do governo, e
marcou sua renúncia para o dia 11. Theresa assume na mesma data. Para os
britânicos o melhor seria que se cumprisse a profecia da esquerda, que a futura
chefe do governo siga os passos de Thatcher. É o que a ilha precisa, de uma
líder forte, enérgica e sensata.
Pior do que a débil esquerda britânica, a esquerda
brasileira conseguiu ser ainda mais patética. Os grandes portais progressistas
simplesmente ignoraram a disputa pela liderança. Já haviam ignorado antes,
quando Cameron formou um governo com dezesseis mulheres, do primeiro até o
último escalão. Incluindo as concorrentes ao cargo de primeiro-ministro.
Diferente do primeiro-ministro canadense Justin Trudeau, que formou um gabinete
composto igualmente por homens e mulheres apenas para fazer propaganda, Cameron
fez escolhas políticas e administrativas. Prevaleceram as mais competentes. Mas
nossa mídia progressista não viu isso. Não deram destaque ao currículo das
concorrentes, e nem ressaltaram o fato de que desde 1707 será apenas a segunda
vez que o cargo é ocupado por uma mulher.
Chama a atenção o silêncio de Quebrando o Tabu, Buzzfeed,
Catraca Livre, Huffington Post, Folha, Piauí e congêneres. Deveriam estar
soltando fogos. Isso se de fato se importassem com as mulheres ou qualquer
outra minoria que dizem defender. O que essa gente defende não são minorias,
não são maiorias que ainda não conquistaram o devido espaço (como as mulheres).
O que eles defendem é uma ideologia, por acaso uma ideologia que
instrumentaliza a luta de negros, mulheres, gays, pobres e tantos outros
grupos. Os jornalistas desses veículos parecem adolescentes quando se trata de
comentar “sobre a resposta que uma garota de 5 anos deu a um vendedor que disse
que carrinhos são brinquedos de meninos”, mas só foram comentar sobre a
sucessora de Cameron hoje, e em passant. Os que gritam por meio de textos
blasés que “vai ter heroína negra sim”, que “o Thor é mulher e a internet não
está sabendo lidar”, que o novo filme dos Caça Fantasmas é composto por
mulheres e que os homens vão ter que lidar com isso” preferem lançar bravatas
ao invés de enfrentar a realidade. Isso porque se tratam de adultos mimados
provenientes da classe média alta. Eles não sabem que antes do curso de
humanas, haviam muitas mulheres lutando por suas vidas, reivindicado para si o
protagonismo e exercendo a cidadania. Eram enfermeiras, empregadas domésticas,
advogadas, microempreendedoras, catadoras de material reciclável. Isso em todo
o mundo. Essa novidade ainda não chegou ao DCE.
A verdade é que os ideólogos de redação sabem muito bem
disso, mas preferem adequar o mundo à sua realidade paralela. Eles querem fazer
crer que a luta das mulheres começou quando alguns esquerdistas radicais
começaram a fazer vomitaços, ou quando mulheres asquerosas começaram a marchar
pelo direito de assassinar bebes ainda no útero. As mulheres que de fato fazem
algo por si mesmas e por suas comunidades, cujos atos servirão de inspiração
para as novas gerações de garotas, essas são sumariamente ignoradas. É o caso
de Theresa May. Mesmo a inexperiente Andrea Leadsom é um nome muito maior do
que todas as feministas. O compromisso delas não é com os indivíduos, mas sim
com suas agendas políticas. Tudo é questão de conveniência política. Mostram os
dentes para o governo Temer pela falta de mulheres, chamando isso de
conservadorismo. Mas quando alguns conservadores elegem uma mulher, eles se
calam. Só para lembrar, um desses veículos vivia cobrando representatividade
racial diariamente, reivindicando mais espaços para negros tanto nas escolas
quanto nos filmes, tanto nas HQs quanto nos games. No final, uma foto da equipe
de redação mostrou que aqueles progressistas blasés do Huffington Post Brasil
não tinham sequer um mulatinho para preencher cota. Tendo isso em mente, fica o
conselho: está proibido dar ouvidos a qualquer manchete sensacionalista ou
texto demagógico veiculado por esses portais. Quando aparecer algo do Catraca
Livre, HuffsPost Brasil, Quebrando o Tabu e Buzzfeed reivindicando
representatividade, o segredo é denunciar, pois se trata de mais um estelionato
na praça.
Fonte: O reacionário
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