Na Assembleia Geral das Nações Unidas, o discurso dos presidentes do Brasil, Irã e Estados Unidos repercutiram pelas formas tradicionais de poder, mas nas redes sociais quem bombou foi o presidente uruguaio José ‘Pepe’ Mujica com seu discurso humanitário, favorável à ciência e condenando as guerras como solução dos problemas políticos. Ele até se voluntariou para ajudar as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e o Estado da Colômbia a fazerem um acordo de paz.
O presidente americano, Barack Obama, chefe do maior exército do mundo, ficou por cima de todos, aos menos nos números de tuítes. Mas o crescimento de Mujica foi significativo e superou o da presidente brasileira e do iraniano Hassan Rouani após suas falas no púlpito das Nações Unidas. Enquanto eles caíam, as palavras do ex-guerrilheiro uruguaio eram espalhadas pelos ventos do Twitter pelas Américas e pela Europa, segundo as ferramentas de medição de redes sociais Topsy e TrendsMap.
O mérito de Mujica é ainda maior se for levado em conta o histórico dos outros presidentes, mais “incensados” pela mídia e que, ao longo da semana, ou no caso de Obama, do mesmo dia, têm assuntos domésticos que levam a milhares de tuítes sobre suas ações, explica Pedro Ivo Rogedo, pesquisador de mídias sociais da Coppead/UFRJ. No caso de Obama, o pesquisador diz, a repercussão de sua fala na ONU foi “relativamente pífia”. Ele lembra ainda que Rouhani teve também uma boa repercussão após seu discurso, quando reconheceu a existência do Holocausto em uma entrevista.
Há algumas semanas Mujica também criticou a ameça americana de bombardear a Síria com sua linguagem peculiar: "O único bombardeio admissível na Síria é de leite em pó, biscoitos e alimentos, não de armas”
“Olá a todos, venho do Sul, esquina com Atlântico e o Prata”, começou Mujica, que tem 78 anos.
“Nossa época continua dirigida pela acumulação e pelo mercado. Prometemos uma vida de resíduos e desperdícios”.
“Minha história pessoal, a de um garoto, porque algum dia fui um garoto, que como outros quis mudar sua época, seu mundo, o sonho de uma sociedade libertária e sem classes”.
“No fundo, trata-se de uma contagem regressiva contra a natureza e contra a Humanidade como futuro. Civilização contra a simplicidade, contra a sobriedade, contra os ciclos naturais, e pior: civilização contra a liberdade que pressupõe ter tempo para viver as relações humanas, o único transcendente: amor, amizade, aventura, solidariedade, família”.
“Como se fosse pouco, o capitalismo produtivo, verdadeiramente produtivo, está meio prisioneiro da caixa dos grandes bancos, que no fundo, são o ápice do poder mundial”.
“Precisamos, sim, mastigar muito o velho e eterno da vida humana, junto à ciência, essa ciência que se empenha pela Humanidade e não para se ficar rico”.
“Então, cada um empunha as armas de acordo com seu próprio valor, e aí estamos porque não podemos raciocinar como espécie, apenas como indivíduos”.
“Fazemos diferenciações hierárquicas que, no fundo, minam o melhor que têm as repúblicas, que ninguém é melhor do que ninguém”.
“Defino que, enquanto o homem viva em clima de guerra, está na pré-História, apesar dos muitos artefatos que possa construir. Até que o homem não saia dessa pré-História e arquive a guerra como recurso quando a política fracassa... essa é a grande marcha e o caminho que temos pela frente”.
“Pensem que a vida humana é um milagre, que estamos vivos por milagre e que nada vale mais do que a vida. E que nosso dever biológico é por cima do todas as coisas, respeitar a vida e impulsioná-la, criá-la, procriá-la e entender que a espécie é nosso nós”.
Fonte: O Globo
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