Além de importar muito, o Brasil perde exportações para seus
tradicionais compradores da América Latina, que nos últimos cinco anos fizeram
acordos com diversos blocos econômicos, incluindo os Estados Unidos e a União
Europeia (UE).
De acordo com dados da Confederação Nacional da Indústria
(CNI), desde o início da crise internacional, em 2008, até 2011, o País perdeu
US$ 5,4 bilhões em vendas para a Argentina, México, Peru, Colômbia, Chile,
Equador, Venezuela, Paraguai e Bolívia. As compras foram direcionadas para
China, Estados Unidos, União Europeia e México.
Os acordos que o Chile tem envolvem 62 países, incluindo os
27 da UE. Os da Colômbia envolvem 60 países, os do Peru 52, os do México 50 e
os do Brasil, apenas 22, a maioria de pouca expressão comercial, como Israel,
Egito, Palestina e a União Aduaneira do Sul da África (Sacu). Os três últimos
ainda nem entraram em vigor.
Soraya Rosar, gerente executiva da Unidade de Negociações
Internacionais da CNI, afirma que, tradicionalmente, a postura do empresariado
brasileiro era mais defensiva, de resguardo ao mercado doméstico para a
indústria local. Isso mudou com a perda da competitividade local e com a onda
de acordos deflagrados pelos demais países, que colocam o Brasil no isolamento.
"A CNI entende que a perda de competitividade da
indústria brasileira e a queda nas exportações de semi e manufaturados
sinalizam que o Brasil precisa dar mais atenção às negociações
internacionais", diz Soraya. "O País corre o risco de perder mais
espaço em seus mercados exportadores se não entrar no jogo mundial e buscar
novas parcerias no comércio internacional."
Soraya reconhece, contudo, que acordos comerciais, em si,
não resolvem o problema se o País não melhorar sua competitividade.
O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de
Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Moan, também favorável aos acordos
internacionais, ressalta que a falta de competitividade e a baixa produtividade
da indústria brasileira em geral vão exigir um período de transição para
adequação dos setores.
A entidade tem o desafio de exportar 1 milhão de veículos
até 2017. Há sete anos, o setor exportou 900 mil veículos, mas, desde então, os
números despencaram. Em 2012, foram 442 mil unidades e, neste ano, não devem
passar de 420 mil. Segundo Moan, a Anfavea já entregou ao governo suas
propostas para a negociação do acordo do Mercosul com a UE e pede que o setor
seja tratado como "sensível".
Sem consenso. Apesar do apoio de grandes entidades, a defesa
dos acordos comerciais não é consenso em toda a indústria. Uma parte teme a
abertura comercial desenfreada, como ocorreu no passado.
"A tarefa é difícil, vai exigir determinação e visão de
longo prazo, mas não podemos mais perder tempo, pois nosso atraso é
federal", diz Julio Gomes de Almeida, ex-secretário de Política Econômica
do Ministério da Fazenda. Ele lembra que as cadeias globais de setores como
eletrônico, farmacêutico e tecnologia da informação "nem passaram perto do
Brasil".
O presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil
(AEB), José Augusto de Castro, ressalta que o momento é bastante complicado
para as negociações. "O mundo passa por um momento de crise e todos os
países querem aumentar suas exportações e diminuir as importações, ou seja, a
conta não fecha."
Para o Brasil, que ficou afastado dos grandes acordos, a
situação é ainda mais difícil. Segundo Castro, em 2007 o Brasil tinha 20.889
empresas exportadoras. Hoje, são 18.630, ou 2.259 a menos.
Já o número de empresas importadoras aumentou de 28.911 para
42.458, ou 13.547 a mais. Só de janeiro a abril deste ano, em relação ao mesmo
período do ano passado, 59 empresas deixaram a lista de exportadoras e 776
entraram na lista de importadoras, informa a AEB.
Fonte: Estadão
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